Meditação, sonhos e hipnose: existe alguma relação?

Mergulho Interior

Muitas pessoas acreditam que esses três temas têm alguma ligação, mesmo que pequena. Até porque, para alguns, os sonhos estão bastante conectados às experiências vividas em uma meditação ou sessão de hipnose.

Mas será que isso é verdadeiro? Será que realmente sonhamos quando entramos em contato com alguma das duas ações? Bem, do ponto de vista espiritualista, os sonhos podem sim ter alguma relação com a meditação.

Até porque muitos espiritualistas entendem que alguns sonhos, como os lúcidos, representam o contato com entidades. Do mesmo modo, a meditação também pode servir ao mesmo propósito.

Enquanto isso, a hipnose trabalha em um viés científico, enxergando os temas de formas diferentes. Então, para enriquecer este artigo, falamos com dois hipnólogos: Renato Cameirão e Rafael Franco de Oliveira.

Ambos nos falaram um pouco sobre as suas visões relativas ao tema, além de dizer o que enxergam sobre a espiritualidade e o autoconhecimento. Mas antes de tudo, vamos nos aprofundar um pouco mais sobre a visão espiritualista.

Sonhos e meditação do ponto de vista espiritualista

Quem nunca teve um sonho que parece já ter acontecido em algum momento da vida? E quem nunca acreditou que aquele sonho era um tipo de premonição? Ou até mesmo um aviso?

Tudo isso realmente pode acontecer porque, de acordo com a visão de alguns espiritualistas, a nossa alma caminha pelo plano espiritual ou astral durante os sonhos. Logo, ela pode encontrar entidades que trazem informações, conselhos ou memórias.

Além disso, é muito comum ouvir relatos de sonhos que pareciam tão reais quanto a rotina diária, os famosos sonhos lúcidos. Muitos desses sonhos são aqueles que representam viagens astrais e já foram até mesmo estudados, como ressalta o hipnólogo Renato Cameirão:

“(…) quanto aos sonhos, a ciência aponta que estes acontecem durante a fase de sono REM, com intensa atividade cerebral de uma série de áreas, com destaque para o sistema emocional e menor atividade da parte racional. Já nos sonhos lúcidos, se observou uma grande atividade da parte do cérebro responsável pelo controle de nossas ações e menor atividade nas demais áreas.”

Renato Cameirão

Mas claro, além das explicações espirituais, também devemos enxergar as explicações psicológicas. Nelas, alguns estudos mostram que traumas, acontecimentos do dia a dia e outras coisas podem ser refletidas nessas experiências, como é dito por Cameirão:

“Infelizmente não há muitas conclusões sobre os sonhos, mas existem estudos que apontam que algumas vivências de nosso dia a dia são incorporadas nos nossos sonhos, além da sua importância para o processo de aprimoramento da memória e aprendizado.”

Renato Cameirão

E se os sonhos podem refletir experiências espirituais ou da nossa rotina, acreditamos que eles podem ser uma ótima forma de autoconhecimento. Afinal, você pode entrar em contato com o seu eu interior e aprender um pouco mais sobre si mesmo.

Ainda nesse ponto, temos a meditação que para muitos espiritualistas é o grau mais alto de mergulho interior. Isso porque imergimos em nós mesmos quando entramos em estado meditativo, podendo nos conectar com informações muito úteis para o nosso crescimento espiritual.

Nesse sentido, vale ressaltar que, para nós, o autoconhecimento e o desenvolvimento pessoal são as melhores formas para trabalhar a evolução da alma. Portanto, a meditação e os sonhos podem ser boas abordagens para o entendimento de si mesmo.

Para os hipnólogos, essa ideia também é vista de uma maneira positiva, podendo nos auxiliar de diversas formas:

“Todas as abordagens que buscam melhorar a qualidade de vida de uma pessoa são extremamente válidas. Tudo vai depender da crença da pessoa e essa melhora pode ser tornar cíclica, já que para essa pessoa o fato de ter um desenvolvimento espiritual vai possibilitar que ela tenha ainda mais autoconhecimento e melhora no desenvolvimento pessoa.”

Rafael Franco

“Enxergo isso de uma forma muito positiva! Para mim, espiritualidade está diretamente ligada à noção de autorresponsabilidade e potencialidades a serem desabrochadas. Para que isso atinja o espectro mais amplo possível, vejo como imprescindível o autoconhecimento e o desenvolvimento pessoal.

Antes de nos indagarmos de onde viemos e para onde vamos, talvez seja necessário primeiro entender quem somos e o que estamos fazendo no agora. Ao invés de aguardarmos os porquês, talvez a ação de buscarmos a melhor versão de nós mesmos e a melhor forma de interagirmos com o mundo possa trazer mais satisfação quando sentimos que algo falta em nosso interior.

Além disso, o ser humano é um sistema complexo, então considero muito saudável trabalhar constantemente todos seus elementos.”

Renato Cameirão

Sonhos, meditação e hipnose do ponto de vista científico

De acordo com Renato Cameirão, a relação entre os assuntos demandaria uma análise minuciosa, visto que existem diversos conceitos de hipnose, visões de teóricos e práticas meditativas. Então, após falar sobre conceitos teóricos, ele traçou uma grande diferença entre hipnose e meditação:

“Diante de tais marcos, nota-se, então, que a hipnose ocorre pelo ato de nos voltarmos para dentro, aos nossos processos internos (emoções, pensamentos e comportamentos) com a utilização da sugestão, direcionada a um objetivo determinado, geralmente associado a uma mudança ou ressignificação desses processos internos. É o chamado downtime.

Ocorre que, do lado da meditação, o que acontece é justamente o inverso. Contudo lembro que não entrarei no mérito de cada uma das várias linhas existentes na meditação, mas sim focarei apenas no aspecto comum entre elas, que foi disseminado de uma forma laica e científica no Ocidente, que é a atenção plena ou mindfulness (Kabat-Zinn, 1979).

Como o próprio nome já diz, a mindfulness é uma prática em que procuramos a atenção no aqui e agora, sem análises e julgamentos, enquanto consciências puras. É o voltar-se para fora, sem sugestões, em uma perspectiva de observador neutro. É o chamado uptime.”

Renato Cameirão

Rafael Franco também comentou sobre as diferentes visões de teóricos acerca da hipnose. Além disso, ele ressaltou que as diferenças e semelhanças entre a prática e a meditação dependeriam bastante da definição escolhida para a hipnose. Mas, na visão dele, existem dois fatores que diferem a hipnose da meditação:

“Na hipnose existe o conceito de sugestão (comando), o que não existe na meditação.

Foi tentado alterar o nome da hipnose para monoideísmo, que é a ideia do foco em apenas um pensamento. Só não foi possível porque o termo hipnose já tinha “pegado”. E na meditação é o oposto, é a ideia de ausência de pensamento.

A única semelhança entre hipnose e meditação é o relaxamento do corpo e da mente. E ainda assim não é preciso ter relaxamento para que a hipnose aconteça, ela apenas ajuda no processo.”

Rafael Franco

Assim como Rafael Franco, Renato Cameirão também fala sobre a semelhança entre os dois temas ao abordar o relaxamento:

“Sendo a hipnose e a mindfulness distintas, o ponto de encontro está no fato de que tanto em uma quanto em outra podem surgir estados alterados de consciência, no que se inclui a própria perspectiva subjetiva do praticante. É por isso que muitas vezes ouviremos meditadores relatarem a similaridade entre as duas, geralmente associando a um relaxamento que obtiveram em ambas.”

Renato Cameirão

Falando sobre os sonhos, já mencionamos a fala de Renato Cameirão que abordava a falta de estudos suficientes sobre o tema. Para o entrevistado, a relação entre os três assuntos abordados no texto se restringem à ativação de áreas no cérebro.

Enquanto isso, Rafael Franco é enfático ao dizer que os sonhos não estão associados à hipnose:

“Não existe uma relação direta entre os sonhos com a hipnose/meditação, apesar do fato que tudo que vivemos e experimentamos durante o dia podem afetar os sonhos de alguma forma.”

Rafael Franco

No entanto, ele também avalia que é importante utilizar o mundo e as crenças do cliente durante uma sessão de hipnose. Sendo assim, tanto os sonhos quanto a meditação podem ser aproveitados:

“(…) se o cliente tiver a crença que um sonho diz algo nós devemos utilizar isso em favor da melhora, independente se acreditamos nisso ou não. E a meditação pode sim ser utilizada, principalmente para acalmar o cliente e como forma de relaxamento.”

Rafael Franco

Renato Cameirão também enxerga a meditação de uma maneira similar ao acreditar que ela pode ser uma boa forma de relaxamento até que o paciente chegue ao estado desejado:

“Mesmo que na hipnose estejamos buscando o downtime, podemos iniciar a terapia com mindfulness, centrando o pensamento para aumentar o engajamento e, posteriormente, iniciar o mergulho interno. Iniciado o processo, podemos alternar entre downtime e uptime para promover insights, já que a mindfulness tem o potencial de promover espaços no pensamento que favorecem a conexão automática entre recursos e referências internas da pessoa e, assim, gerando um vislumbre de soluções para o que está sendo trabalhado.”

Renato Cameirão

Os dois hipnólogos também concordam ao falar que os sonhos e a meditação podem auxiliar as pessoas a se conhecerem melhor e se desenvolverem:

“Tanto na meditação quanto na hipnose entramos em estado de ‘downtime’ que basicamente é a gente voltar o nosso foco para dentro de nós mesmos. Nesse momento podemos enxergar pontos que podem (ou devem) ser melhorados. Quantos aos sonhos, independente da forma como eles sejam criados, pode sim ser uma forma de entender uma situação ou um sentimento vivido.”

Rafael Franco

“Acredito que todos têm os recursos e o potencial para se desenvolverem, então, de uma forma ou de outra, vejo que a importância está menos no significado que os sonhos têm, e mais no que será feito com essa informação, na busca por nos sentirmos melhores com nós mesmos e por nos relacionarmos melhor com quem vivemos. Para mim, isso é se conhecer melhor e se desenvolver.

Isso se conecta diretamente com a meditação, pois, da mesma forma estamos adotando a visão do observador neutro, sem nos afetarmos e nos identificarmos com esses elementos e com outros aspectos de nossa vida. Praticar meditação certamente é um grande auxilio rumo ao desenvolvimento pessoal.”

Renato Cameirão

Por fim, ambos também ressaltaram como a hipnose pode servir como uma forma de autoconhecimento para o hipnotizado por diversos fatores. Rafael França destaca que seus pacientes conseguem perceber como a imaginação pode impactar diretamente na realidade, o que os estimula a ter pensamentos positivos na sua rotina.

Já Renato Cameirão ressalta que a alteração de percepções mostra como a mente é capaz de fazer muitas coisas. Logo, se ela é capaz disso, também pode fazer muito em outras áreas das nossas vidas:

“Isso devolve o poder às pessoas! Passamos a enxergar do que somos capazes e como podemos alterar aquilo que nos aflige, aprendendo e direcionando os caminhos de nossa mente. E o melhor, com a hipnose isso geralmente ocorre em um curto espaço de tempo!”

Renato Cameirão

A mente é um universo que a humanidade ainda estuda para conhecer cada vez mais. E além da hipnose, diversos outros tipos de terapias alternativas também trabalham no âmbito mental. Cada uma delas interpretando o trabalho do cérebro e ajudando seus pacientes a melhorar suas rotinas.

Agradecemos aos dois profissionais citados neste artigo pela entrevista e por contribuir com este artigo no nosso site! Se você quiser falar com algum deles para ter uma ótima sessão de hipnose, entre em contato através de algum dos canais abaixo:

Renato Cameirão:

Rafael Franco:

Espiritualidade Divina