A crença na vida após a morte e no processo da reencarnação pode lançar diversas respostas sobre os mistérios da existência humana. Porém, estes temas ainda estão cercados de dúvidas. Uma dessas dúvidas diz respeito a reencarnação compulsória.

Será que isso existe mesmo? Será que um espírito pode ter seu livre-arbítrio violado para que reencarne compulsoriamente? Neste artigo explicaremos tudo sobre o assunto, confira!

O que é reencarnação?

Em termos simples, podemos dizer que a reencarnação é uma ideia que admite a possibilidade de que o espírito de um ser vivo possa sobreviver à morte física, voltando a animar um corpo físico em uma existência posterior.

Ou seja, segundo a crença na reencarnação, a porção espiritual de uma pessoa falecida continua viva em outro plano de existência e pode voltar a renascer em um novo corpo humano assim que as condições forem satisfatórias.

Segundo esta visão, as pessoas estariam em um ciclo de renascimento e morte que as levariam até a perfeição espiritual ao fim de um grande número de vidas corpóreas.

Em “O Livro dos Espíritos” de Allan Kardec, Codificador da Doutrina Espírita (Espiritismo), encontramos as seguintes explicações sobre a utilidade da reencarnação:

166. Como pode a alma, que não alcançou a perfeição durante a vida corpórea, acabar de depurar-se?
Sofrendo a prova de uma nova existência.”
a) — Como realiza essa nova existência? Será pela sua transformação como Espírito? “
Depurando-se, a alma indubitavelmente experimenta uma transformação, mas para isso necessária lhe é a prova da vida corporal.”
b) — A alma passa então por muitas existências corporais? “Sim, todos contamos muitas existências. Os que dizem o contrário pretendem manter-vos na ignorância em que eles próprios se encontram. Esse o desejo deles.”
c) — Parece resultar desse princípio que a alma, depois de haver deixado um corpo, toma outro, ou, então, que reencarna em novo corpo. É assim que se deve entender?
“Evidentemente.”
167. Qual o fim objetivado com a reencarnação? “Expiação, melhoramento progressivo da Humanidade. Sem isto, onde a justiça?”

Allan Kardec, o Livro dos Espíritos

Como podemos observar nos trechos acima, a reencarnação é uma forma de proporcionar ao espírito as provas necessárias para que ele se melhore progressivamente até atingir um estado de perfeição.

O que é reencarnação compulsória?

A reencarnação compulsória é a ideia segundo a qual um espírito reencarna contra a sua vontade ou sem que ele tenha conhecimento de que a reencarnação irá ocorrer.

A reencarnação compulsória teria como propósito dar continuidade ao progresso de espíritos que atrasam seu progresso por não reencarnarem. Isto pode ser causado pela impossibilidade do espírito em decidir o que lhe é mais apropriado e benéfico naquele momento.

A este respeito, encontramos a seguinte passagem em “O Livro dos Espíritos” de Allan Kardec:

262. Como pode o Espírito, que, em sua origem, é simples, ignorante e carecido de experiência, escolher uma existência com conhecimento de causa e ser responsável por essa escolha?
“Deus lhe supre a inexperiência, traçando-lhe o caminho que deve seguir, como fazeis com a criancinha. Deixa-o, porém, pouco a pouco, à medida que o seu livre-arbítrio se desenvolve, senhor de proceder à escolha e só então é que muitas vezes lhe acontece extraviar-se, tomando o mau caminho, por desatender os conselhos dos bons Espíritos. A isso é que se pode chamar a queda do homem.”
a) — Quando o Espírito goza do livre-arbítrio, a escolha da existência corporal dependerá sempre exclusivamente de sua vontade, ou essa existência lhe pode ser imposta, como expiação, pela vontade de Deus? “Deus sabe esperar, não apressa a expiação. Todavia, pode impor certa existência a um Espírito, quando este, pela sua inferioridade ou má vontade, não se mostra apto a compreender o que lhe seria mais útil, e quando vê que tal existência servirá para a purificação e o progresso do Espírito, ao mesmo tempo que lhe sirva de expiação.”

Allan Kardec, O Livro dos Espíritos

Como podemos observar no trecho acima do Livro dos Espíritos, existe a possibilidade de ocorrer uma reencarnação compulsória pelo menos nos casos em que um espírito não se mostra suficientemente capaz de compreender o que é melhor para si.

De fato, o termo reencarnação compulsória não é encontrado no trecho acima, mas fica subentendido. Afinal, se a reencarnação ocorre por determinação divina e se vai contra a vontade do espírito reencarnante, ela é compulsória por definição.

O Livre-arbítrio de um espírito pode ser violado?

O Livre-arbítrio é uma prerrogativa do ser humano. Sem ele nós seríamos “simples máquinas” como atestado pelos espíritos no seguinte trecho do Livro dos Espíritos:

843. Tem o homem o livre-arbítrio de seus atos? “Pois que tem a liberdade de pensar, tem igualmente a de obrar. Sem o livre-arbítrio, o homem seria máquina.”

Allan Kardec, O Livro dos Espíritos

Ainda, segundo Allan Kardec em sua Revista Espírita de 1866 na página 213:

O livre-arbítrio é uma das prerrogativas do homem; desde que é livre para ir à direita ou à esquerda, de agir conforme as circunstâncias, seus movimentos não são regulados como os de uma máquina. Conforme faz ou não faz uma coisa e conforme a faz de uma maneira ou de outra, os acontecimentos que disso dependem seguem um curso diferente; visto que são subordinados à decisão do homem, não estão submetidos à fatalidade.

Revista Espírita, 1866, Página 213

Diante de tais afirmações, se torna evidente que o homem possui um livre-arbítrio que o possibilita agir conforme sua vontade, produzindo boas e más ações.

No entanto, este livre-arbítrio está limitado diante das Leis da Natureza. Ou seja, se o comportamento de um espírito estiver violando as Leis Naturais, o espírito desencarnado poderá ser obrigado a passar por certas experiências que o coloquem de volta aos domínios dessas Leis.

Em “O Evangelho Segundo o Espiritismo” encontramos o seguinte trecho:

As tribulações podem ser impostas a Espíritos endurecidos, ou extremamente ignorantes, para levá-los a fazer uma escolha com conhecimento de causa. Os Espíritos penitentes, porém, desejosos de reparar o mal que hajam feito e de proceder melhor, esses as escolhem livremente. Tal o caso de um que, havendo desempenhado mal sua tarefa, pede lha deixem recomeçar, para não perder o fruto de seu trabalho. As tribulações, portanto, são, ao mesmo tempo, expiações do passado, que recebe nelas o merecido castigo, e provas com relação ao futuro, que elas preparam. Rendamos graças a Deus, que, em sua bondade, faculta ao homem reparar seus erros e não o condena irrevogavelmente por uma primeira falta

Allan Kardec, O Evangelho Segundo o Espiritismo

Novamente fica evidente que o livre-arbítrio é de certa forma limitado em situações especiais através de certas imposições.

No entanto, o trecho acima deixa claro que as tribulações visam levar o espírito ignorante a fazer uma escolha com conhecimento de causa.

Ou seja, diante das tribulações ele é levado a exercitar seu livre-arbítrio, tomando a melhor decisão para si mesmo.

Afinal, existe reencarnação compulsória?

A existência da reencarnação compulsória é um tema cercado de polêmicas. Existem os que creem nela e os que a descartam por completo.

No entanto, nos atendo aos trechos explicados neste artigo, podemos afirmar que existe reencarnação compulsória e que este é um recurso utilizado somente em casos de extrema necessidade.

Afinal, o livre-arbítrio é respeitado até o limite das Leis Naturais. Ou seja, existe pleno livre arbítrio dentro de seu “campo de ação”. Este campo de ação é tudo o que está em harmonia com as Leis Naturais.

No entanto, quando este campo de ação é extrapolado, não há outra escolha senão impor os limites compulsoriamente a fim de que o Espírito embrutecido e ignorante tenha maiores chances de voltar a exercer seu livre-arbítrio em seu “campo de ação” apropriado.