O desencarne é uma experiência muito difícil para os seres humanos. A morte do corpo físico é o fim de um ciclo material e o início de um ciclo espiritual.

Após a morte física, o desencarnado pode experimentar um estado de perturbação espiritual que pode durar um tempo variado.

Por isso, devemos fazer o que está ao nosso alcance para ajudá-lo em sua jornada de retorno ao plano espiritual.

No entanto, muitas pessoas não sabem como proceder quando se deparam com o momento traumático da morte de um ente querido.

Mas afinal, como ajudar um espírito recém-desencarnado? Neste artigo lhe explicaremos tudo sobre o assunto, confira!

A vida após a morte, o desencarne e o espírito do desencarnado

Após a morte do corpo físico, o espírito do desencarnado conserva sua individualidade e retorna ao plano espiritual. Ao conservar sua individualidade ele ainda carrega consigo as lembranças da sua vida material.

Quando o corpo falece, os laços que mantém a alma presa a ele se rompem gradualmente e devolvem à alma a liberdade que ela tem por direito natural.

Algumas pessoas tem medo do sofrimento físico decorrente do desencarne. Porém, Allan Kardec nos esclarece esta situação em seu “Livro dos Espíritos”:

154. É dolorosa a separação da alma e do corpo?
“Não; o corpo quase sempre sofre mais durante a vida do que no momento da morte; a alma nenhuma parte toma nisso. Os sofrimentos que algumas vezes se experimentam no instante da morte são um gozo para o Espírito, que vê chegar o termo do seu exílio.” Na morte natural, a que sobrevém pelo esgotamento dos órgãos, em conseqüência da idade, o homem deixa a vida sem o perceber: é uma lâmpada que se apaga por falta de óleo.

157. No momento da morte, a alma sente, alguma vez, qualquer aspiração ou êxtase que lhe faça entrever o mundo onde vai de novo entrar? “Muitas vezes a alma sente que se desfazem os laços que a prendem ao corpo. Emprega então todos os esforços para desfazê-los inteiramente. Já em parte desprendida da matéria, vê o futuro desdobrar-se diante de si e goza, por antecipação, do estado de Espírito.”

Como podemos observar no trecho acima, os espíritos nos dizem que a alma, por si, não sofre no momento do desencarne. Pelo contrário, ela se vê diante de uma espécie de gozo relacionado à volta de seu estado natural de liberdade espiritual.

Outra questão muito pertinente sobre a morte é a duração da separação que se dá entre a alma e o corpo. A este respeito, o Espiritismo nos diz o seguinte:

a) — A separação se dá instantaneamente por brusca transição? Haverá alguma linha de demarcação nitidamente traçada entre a vida e a morte?
“Não; a alma se desprende gradualmente, não se escapa como um pássaro cativo a que se restitua subitamente a liberdade. Aqueles dois estados se tocam e confundem, de sorte que o Espírito se solta pouco a pouco dos laços que o prendiam. Estes laços se desatam, não se quebram.”

Portanto, diante disso, devemos ter consciência que a alma pode continuar ligada ao seu corpo físico mesmo após o desencarne.

Por isso, é muito importante que observemos e controlemos a atitude que tomamos nas horas que sucedem o desencarne da pessoa amada.

Cuidados no velório do recém-desencarnado

Para ajudar um espírito recém-desencarnado devemos manter uma atitude de extremo respeito, oração e caridade. Durante o velório, é interessante que se evite nutrir sentimentos de revolta, blasfêmia, discórdia e maledicência.

Adotar uma postura de oração em busca do auxílio dos Bons Espíritos, Deus e da espiritualidade em geral, emanando bons fluidos ao desencarnado. Afinal, esta é a melhor forma de ajudá-lo neste momento.

Devemos evitar frivolidades e demais atitudes improdutivas a fim de que a alma possa se desprender com toda a naturalidade e suavidade necessária.

Como lidar com o luto pela pessoa falecida

O sofrimento natural do luto não deve ser suprimido. Porém, devemos senti-lo com toda a sabedoria e responsabilidade, compreendendo que a situação é delicada mas que ainda temos uma responsabilidade para com a alma desencarnada.

A fé deve ser nutrida e a crença na sabedoria da Divina Providência deve ser estabelecida. Compreenda que o recém-desencarnado continua vivo em um outro plano de existência. Ele não foi perdido, pelo contrário, ele está entre seus semelhantes espirituais e chegará um dia em que você voltará a se encontrar com ele.

As emanações negativas dos sentimentos de revolta são extremamente nocivas para o desencarnado, fazendo-o sentir culpa por ter deixado seu invólucro material. Isso pode causar sérios problemas, aumentando o estado de perturbação espiritual do espírito recém-desencarnado.

A perturbação espiritual do recém-desencarnado

A alma sofre com um período de perturbação espiritual de tempo variável após o desencarne. A perturbação espiritual é um estado em que a alma se torna confusa e não compreende sua situação.

Allan Kardec nos esclarece o seguinte sobre a perturbação espiritual:

[…] Por ocasião da morte, tudo, a princípio, é confuso. De algum tempo precisa a alma para entrar no conhecimento de si mesma. Ela se acha como que aturdida, no estado de uma pessoa que despertou de profundo sono e procura orientar-se sobre a sua situação. A lucidez das idéias e a memória do passado lhe voltam, à medida que se apaga a influência da matéria que ela acaba de abandonar, e à medida que se dissipa a espécie de névoa que lhe obscurece os pensamentos. Muito variável é o tempo que dura a perturbação que se segue à morte. Pode ser de algumas horas, como também de muitos meses e até de muitos anos. Aqueles que, desde quando ainda viviam na Terra, se identificaram com o estado futuro que os aguardava, são os em quem menos longa ela é, porque esses compreendem imediatamente a posição em que se encontram[…]

Aquela perturbação apresenta circunstâncias especiais, de acordo com os caracteres dos indivíduos e, principalmente, com o gênero de morte. Nos casos de morte violenta, por suicídio, suplício, acidente, apoplexia, ferimentos, etc., o Espírito fica surpreendido, espantado e não acredita estar morto. Obstinadamente sustenta que não o está. No entanto, vê o seu próprio corpo, reconhece que esse corpo é seu, mas não compreende que se ache separado dele. Acerca-se das pessoas a quem estima, fala-lhes e não percebe por que elas não o ouvem. Semelhante ilusão se prolonga até ao completo desprendimento do perispírito. Só então o Espírito se reconhece como tal e compreende que não pertence mais ao número dos vivos. […]

Como podemos observar, o estado de perturbação espiritual é muito delicado para o recém-desencarnado.

Ele pode até mesmo ficar perdido em sentimentos negativos motivados pela sua confusão, principalmente quando se aproxima dos seus conhecidos encarnados e não obtém respostas.

Neste estado, o espírito do falecido pode ser muito afetado pelas emanações negativas dos enlutados, sofrendo bastante com a situação por não estar suficientemente esclarecido sobre sua situação.

Afinal, como ajudar um espírito recém-desencarnado?

Como dissemos anteriormente, devemos ter muito respeito para com o corpo e o espírito do falecido. Devemos nutrir bons sentimentos para com ele, evitando a revolta que gera muitas emanações negativas que afetam o desencarnado e a pessoa enlutada.

O remédio para a revolta é o exercício da fé na Sabedoria e na Bondade de Deus, que sabe o que é melhor para cada uma das suas criaturas, fazendo-as nascer e morrer no tempo certo.

Portanto, devemos fazer orações a fim de afastarmos os sentimentos negativos do nosso coração, obtendo a compreensão suficiente que nos ajuda a superar esse momento difícil.

Allan Kardec nos explica o seguinte sobre a prece para ajudar um espírito recém-desencarnado:

As preces pelos Espíritos que acabam de deixar a Terra não objetivam, unicamente, dar-lhes um testemunho de simpatia: também têm por efeito auxiliar-lhes o desprendimento e, desse modo, abreviar-lhes a perturbação que sempre se segue à separação, tornando-lhes mais calmo o despertar. Ainda aí, porém, como em qualquer outra circunstância, a Capítulo XXVIII 356 eficácia está na sinceridade do pensamento, e não na quantidade das palavras que se profiram mais ou menos pomposamente e em que, amiúde, nenhuma parte toma o coração.

O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec

Portanto, para ajudar o espírito recém-desencarnado, faça orações pedindo aos bons espíritos para que lhe auxiliem. A este respeito, em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, encontramos a seguinte prece para os desencarnados:

60. Prece. – Onipotente Deus, que a tua misericórdia se derrame sobre a alma de N…, a quem acabaste de chamar da Terra.
Possam ser-lhe contadas as provas que aqui sofreu, bem como ter suavizadas e encurtadas as penas que ainda haja de suportar na Espiritualidade!
Bons Espíritos que o viestes receber e tu, particularmente, seu anjo guardião, ajudai-o a despojar-se da matéria; dai-lhe luz e a consciência de si mesmo, a fim de que saia presto da perturbação inerente à passagem da vida corpórea para a vida espiritual.
Inspirai-lhe o arrependimento das faltas que haja cometido e o desejo de obter permissão para as reparar, a fim de acelerar o seu avanço rumo à vida eterna bem-aventurada.
N…, acabas de entrar no mundo dos Espíritos e, no entanto, presente aqui te achas entre nós; tu nos vês e ouves, por isso que de menos do que havia, entre ti e nós, só há o corpo perecível que vens de abandonar e que em breve estará reduzido a pó.
Despistes o envoltório grosseiro, sujeito a vicissitudes e à morte, e conservaste apenas o envoltório etéreo, imperecível e inacessível aos sofrimentos.
Já não vives pelo corpo; vives da vida dos Espíritos, vida essa isenta das misérias que afligem a Humanidade.
Já não tens diante de ti o véu que às nossas vistas oculta os esplendores da vida no Além. Podes, doravante, contemplar novas maravilhas, ao passo que nós ainda continuamos mergulhados em trevas.
Vais, em plena liberdade, percorrer o espaço e visitar os mundos, enquanto nós rastejamos penosamente na Terra, à qual se conserva preso o nosso corpo material, semelhante, para nós, a pesado fardo.
Diante de ti, vai desenrolar-se o panorama do Infinito e, em face de tanta grandeza, compreenderás a vacuidade dos nossos desejos terrestres, das nossas ambições mundanas e dos gozos fúteis com que os homens tanto se deleitam.
A morte, para os homens, mais não é do que uma separação material de alguns instantes. Do exílio onde ainda nos retém a vontade de Deus, bem assim os deveres que nos correm neste mundo, acompanhar-te-emos pelo pensamento, até que nos seja permitido juntar-nos a ti, como tu te reuniste aos que te precederam.
Não podemos ir onde te achas, mas tu podes vir ter conosco. Vem, pois, aos que te amam e que tu amaste; ampara-os nas provas da vida; vela pelos que te são caros; protege-os, como puderes; suaviza-lhes os pesares, fazendo-lhes perceber, pelo pensamento, que és mais ditoso agora e dando-lhes a consoladora certeza de que um dia estareis todos reunidos num mundo melhor.
Nesse, onde te encontras, devem extinguir-se todos os ressentimentos. Que a eles, daqui em diante, sejas inacessível, a bem da tua felicidade futura! Perdoa, portanto, aos que hajam incorrido em falta para contigo, como eles te perdoam as que tenhas cometido para com eles.

O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec, Coletânea de Preces Espíritas, Prece Por alguém que acaba de morrer

Apesar de longa, esta prece expressa as verdades em torno da vida após a morte e ajudam bastante o espírito da pessoa que acaba de morrer. Por isso, esta prece vale a pena ser feita com muita fé, atenção e sinceridade de coração.

Conclusão

Ao longo deste artigo lhe explicamos como ajudar um espírito recém-desencarnado. A ajuda se pauta no seu comportamento, controle dos sentimentos e também na sincera prática da fé.

Portanto, se você está passando por este momento delicado da perda de um ente querido, siga as dicas ensinadas neste artigo e ajude o desencarnado a passar por sua transição da melhor forma possível.

Agindo assim, ambos poderão seguir suas vidas com o mínimo de sofrimento, cada um em seu plano correspondente com a certeza de que a Providência Divina nunca falha.